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Um filme para quem tem coração

10.02.17 | Fátima Pinheiro

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 imagem tirada da net

 

Pensei que "La La Land" seria mais uma hollywoodice cara, e que seria um musical. Mas não. É um filme fabuloso (não quer isto dizer que os musicais não são filmes). É um filme "para quem tem coração", canta "Emma Stone" numa cena do filme, repetindo, e repetindo. E claro que vê-lo é "ver" filmes obrigatórios como refere a  Magazine.HD. É também obrigatório no sentido em que, refere a mesma revista, ao ver La La Land se podem rever esses mesmos musicais. A revista remete mesmo para um video comparativo dos musicais que inspiraram o filme de que falamos.

O filme não é um musical porque, sobretudo na segunda parte, que dá mais "cor", densidade, à primeira, e, tal como o jazz, inclui os movimentos da primeira, e agora mais interiores, escondidos, fracturados. É da vida que se trata. São "falas". Sem pautas. Momento a momento, ao improviso da liberdade "treinada" a ser isso mesmo, treinada. Treinada na virtude de saber responder às investidas do que acontece.  O filme é muito mais que um musical porque se recria, citando-se, passado, presente e futuro, sem qualquer tipo de evasão.  As cenas das danças por entre as estrelas, são sim um mergulho num universo onde, por ser universo, nada falta. Nem o sonho, assim batizado de sonho real, humano. Daí o interesse que tem provocado o filme: quem, no fundo, não quer ser amado (city of starts, just what everybody wants)? Leia-se/oiça-se cada palavrinha da bela e original banda sonora do filme. Nada por acaso e esta um must.

O filme aposta na natureza humana, que grita por beleza, sonha, e não ignora, antes pelo contrário, mostra a dramaticidade da vida. E mostra a sua, por vezes, muitas vezes, crueza, injustiça. A ideia-chave que o filme mostra: o amor é possível e impossível. Quem pode negar que o amor aconteceu entre aqueles dois? É verdade, não é só sonho. Mesmo quando tudo parece acabar entre os dois.

Los Angeles e Paris, como nunca ninguém mostrou. Numa montagem que está nos antípodas de surrealismo, e também da magia de Godard, apegado a outra câmara e outros interesses e mestre na(s) história(s) do cinema. Refiro-me à originalidade da sequência do "teria sido" se tivesse sido diferente aquele encontão inicial em que se cruzam. Aqui o "master" em musicais explica muito.

Los Angeles é a cidade onde "Ryan Gosling", um genial mas incógnito pianista de jazz, e "Emma Stone", uma aspirante a atriz, se cruzam e entre eles acontece algo maior que eles, entre os dois. Cada um encoraja o outro no seu sonho, a seguir com o seu coração aquilo que o pode encher. Ambos o realizam, em Paris. Mesmo que pareça o contrário, ela está agora casada com outro e já com um filho. Também não sabemos onde é que Gosling "mora"...

Contudo a cena final fala por si (é preciso vê-la com os próprios olhos). Sem uma palavra. Como? Está na cara. E sempre me disseram que quando o final de um filme não é feliz, é porque ainda não é o final do filme. Está agora tudo nas minhas mãos. É um filme para quem tem coração, isto é para quem decide, vive em tensão e abraça a vida, sem condições. Tudo isto numa plástica fílmica original, inebriante, que surpreende, arrebata, e confima que o cinema é mesmo uma arte para hoje, para quem tem coração. Talvez ela não tenha sabido esperar por ele. O amor, impossível, só é possível nesta abertura ao transcendente, de esperar no que não está, no acreditar no que não se vê, na alegria de um amor que mais dá do que recebe. Sem estas três, não há asas de jeito para voar na city of stars.

 

 

 

Exortai-vos cada dia uns aos outros, até ao dia que se chama «Hoje» (Hebr 3, 13). Exortai-vos cada dia uns aos outros, até ao dia que se chama «Hoje» (Hebr 3, 13).